terça-feira, 9 de outubro de 2012

Testes Ágeis

Um breve resumo....


Frente à constante evolução do software, enquanto propriedade intelectual e produto de mercado, estabeleceu-se como prática indispensável a constante inovação em seu processo de desenvolvimento tendo em vista a redução de custos e a melhoria do produto final para um aumento de competitividade no mercado.
O software está cada vez mais complexo e sua concepção continua a exigir mais dos seus desenvolvedores. Segundo o relatório “CHAOS” (Standish Group, 2009), 32% dos projetos obtiveram sucesso (isto é, foram entregues dentro do prazo estipulado, do orçamento e finalizados), 44% tiveram problemas de atrasos, redução do escopo do software e/ou rombo no orçamento e 24% falharam, foram cancelados ou não foram usados; estes fatos provam a dificuldade que existe em se compreender os fatores, as causas relevantes para as mudanças no curso do processo de desenvolvimento de um software.
[COSTA, 2011] expõe que as metodologias tradicionais têm como principal característica serem divididas por etapas definidas, como “Análise, Modelagem, Desenvolvimento e Testes”, sendo que cada etapa só é iniciada após o termino da etapa anterior, sendo elas interdependentes e cada uma acaba por gerar documentos, diagramas UML e/ou um protótipo de software. E, muitas destas metodologias fazem uso, por exemplo, do modelo Cascata, que utiliza uma abordagem sequencial tendo início pela coleta dos requisitos e, após, passando por planejamento, modelagem, construção e implantação. Embora o modelo seja preciso e organizado, cada etapa seja documentada e o modelo prevê que o processo seja seguido às riscas, o que é deveras interessante, de acordo com [PRESSMAN,2006]  projetos reais raramente seguem o fluxo sequencial que esse modelo propõe; não obstante, por se tratar de um modelo linear, uma modificação no decorrer do processo pode causar confusão e, como sabe-se que para o cliente é difícil estabelecer todos os requisitos explicitamente no início do projeto, isto torna muito difícil demorado e burocrático o desenvolvimento de software em empresas de menor porte e processos menos definidos através do uso de metodologias tradicionais.
Com a intenção de superar este e outros obstáculos que no ano de 2001, foi assinado o famoso “Manifesto para Desenvolvimento Ágil de Software”, por dezessete especialistas em processos de desenvolvimento de software representando os métodos Scrum [Schwaber e Beedle, 2002)], Extreme Programming (XP) [Beck (1999)] e outros. Estes estabeleceram princípios comuns compartilhados por todos esses métodos, criando  então a Aliança Ágil e o estabelecimento do “Manifesto Ágil” [Agile Manifesto (2012)]. Neste documento, importantes desenvolvedores declararam terem descoberto formas melhores de desenvolvimento de software e que, a partir daquele momento, valorizavam mais indivíduos e interações em vez de processos e ferramentas; software funcional no lugar de documentação completa; colaboração com o cliente substituindo a negociação de contrato e resposta à mudanças ao invés de seguir um plano determinado.
A maioria dos métodos ágeis tenta delimitar e reduzir o risco pelo desenvolvimento do software em curtos períodos, denominados iterações, os quais despendem menos de uma semana de tempo a um máximo de quatro semanas, sendo que cada iteração é como um projeto de software em pequena escala do projeto principal, e inclui em si todas as tarefas necessárias para implantar um mini-incremento de uma nova funcionalidade: planejamento, análise de requisitos, projeto, codificação, teste e documentação. Enquanto em um processo convencional cada iteração não está necessariamente focando em adicionar um conjunto de funcionalidades, um projeto de software com metodologia ágil busca a capacidade de implantar uma versão nova do software ao fim de cada iteração, etapa a qual a equipe responsável reavalia as prioridades do projeto.
Pressman denota a filosofia do método ágil para desenvolvimento de software da seguinta forma:
 “ A engenharia de software ágil combina uma filosofia e um conjunto de diretrizes de desenvolvimento. A filosofia encoraja a satisfação do cliente e a entrega incremental do software logo de início; equipes de projeto pequenas, altamente motivadas, métodos informais, produtos de trabalho de engenharia de software mínimos e simplicidade global de desenvolvimento. As diretrizes de desenvolvimento enfatizam a entrega em contraposição à análise e ao projeto (apesar dessas atividades não serem desencorajadas) e a comunicação ativa entre desenvolvedores e clientes”.(2006)

Métodos ágeis enfatizam comunicações em tempo real, preferencialmente in loco , em vez de documentação escrita. A maioria dos stakeholders de um grupo ágil deve estar agrupada em uma sala. Isso inclui todos aqueles necessários para terminar o software: no mínimo, os programadores, gerentes e/ou analistas de negócio e seus clientes. Nesta sala devem também se encontrar os testadores e projetistas. Métodos ágeis também enfatizam trabalho no software como uma medida primária de progresso. Combinado com a comunicação face-a-face, métodos ágeis produzem pouca documentação em relação a outros métodos, sendo este um dos pontos que podem ser considerados negativos. É recomendada apenas a produção de documentação que realmente será útil.
Segundo [SCOTT, 2008] os processos ágeis mais populares e suas principais características são :
• SCRUM: Forte presença de liderança no projeto e gerenciamento dos requisitos.
• Crystal Clear: Foco na eficiência e habilidade, gestão de configuração, integração freqüente.
• Adaptive Software Development: Adaptação continua do processo, iterativo, tolerante a mudanças. 
• Feature Driven Development (FDD): Desenvolvimento dirigido por atributos, com pequenas iterações, posse individual das classes, desenvolvimento dirigido por atributos ou grupo de atributos, construções regulares.
• Dynamic Systems Development Method (DSDM): Baseado no modelo RAD (Rapid Application Development), muito utilizado no desenvolvimento de aplicações focadas em interface com o usuário. Suas principais características são a prototipagem, testes por todo o ciclo da iteração, alterações reversíveis e aplicação de estudos de viabilidade.
• Extreme Programming (XP): Possuiu um conjunto de práticas para desenvolvimento de software, cujas mais diferenciadas são refatoramento, programação em pares, propriedade coletiva, ambiente único com desenvolvedores e clientes, elaboração de histórias (user stories) e ainda desenvolvimento dirigido por testes (Test Driven Development - TDD).
Segundo [NADALETE, 2010] em se tratando de desenvolvimento ágil, alguns princípios definidos por meio do Manifesto Ágil  são utilizados com o objetivo de nortear a linha de produção, como:
       Indivíduos e interações entre eles mais que processos e ferramentas;
       Software em funcionamento mais que documentação abrangente;
       Colaboração com o cliente mais que negociação de contratos;
       Capacidade de responder a mudanças mais que seguir um plano.
Apesar de se valorizar muito mais os itens da esquerda, os itens da direita não são desconsiderados, ao invés disso, os mesmos são aplicados de forma ponderada e conforme a necessidade do processo, sem que haja impacto nas entregas a serem realizadas, prazos estabelecidos e qualidade do produto final gerado. Os mesmos princípios usados para direcionar o desenvolvimento ágil, devem ser considerados quando for aplicado teste ágil, ou seja, testar de forma ágil exige uma forte adaptação na rotina e dinâmica da equipe de teste, em relação ao processo de desenvolvimento adotado, com o objetivo de propiciar um processo relativamente simples e que possa ser executado com grande facilidade e agilidade, cobrindo o maior número de riscos, com um nível de qualidade que seja apreciada e valorizada pelo cliente ou usuário final
[LEAL,2009] afirma que os requisitos para metodologias de teste para processos ágeis não possuem grande diferenciação em relação processos guiados por planos. O que é diferente é o grau de importância atribuído aos testes em cada um dos processos. Nos processos guiados por planos, existe uma extensa série de artefatos documentais resultantes de uma análise profunda sobre o sistema a ser desenvolvido. Sendo assim testes são utilizados nesse caso apenas como mais um artefato produzido pelo processo visando garantir a detecção de erros antes da liberação da versão final
Segundo análise comparativa realizada por [NETO,2004] tomando como base os documentos gerados na etapa de testes o RUP orientado para pequenos projetos gera apenas um único documento que é o Modelo de Testes, já a XP gera 4 (quatro), que são os Testes de Aceitação, Testes de Dados, Testes de Resultados e Unidades de Testes [BECK, 99].   Esses 4 (quatro) documentos gerados na programação extrema são englobados num único documento no Processo Unificado da Rational, fazendo com que este artefato se torne extenso e abrangente, porém sendo tratado como único [KRUCHTEN,00].
 [TOMÁS,2009] reitera que no processo XP antes do desenvolvimento do código, recomenda o processo, que se crie uma bateria de testes unitários para que a história fique satisfeita. Então o foco dos programadores é a satisfação destes testes unitários. Para a codificação o XP, recomenda que esta seja feita em pares., isto garante outros aspectos como qualidade,  e rapidez . Os testes unitários, são mantidos ao longo das várias iterações e passam a fazer parte de uma bateria de testes de regressão, que não é mais do que todos os testes unitários agrupados para serem testados periodicamente de uma vez em períodos curtos . A ideia é confirmar que nada deixou de funcionar. Os clientes são considerados parte da equipe de desenvolvimento, uma vez que a todo o momento são questionados sobre prioridades e testes de versões
Ressalta-se que muitos métodos ágeis, como Lean, Scrum e XP recomendam que todas as pessoas de um projeto (programadores, gerentes, equipes de homologação e até mesmo os clientes) trabalhem controlando a qualidade do produto todos os dias e a todo momento, pois acreditam que prevenir defeitos é mais fácil e barato que identificá-los e corrigi-los. A Programação eXtrema, em particular, recomenda explicitamente testes automatizados para ajudar a garantir a qualidade dos sistemas de software [BERNARDO, 2008].
.Através da definição do processo ideal e simplificado, onde o teste ágil é suportado, um conjunto de práticas que proporcionem a diminuição do tempo entre o erro e a sua descoberta tendem a ser estabelecidos em conjunto com uma sistemática de trabalho que possibilite à área de teste de software ser mais pró-ativa do que reativa.
Analisemos algumas das práticas do processo de teste tradicional aplicados na tentativa de gerenciar o "chaos", ou ao menos evitar culpados [HENDRICKSON,2006]:
       A área de teste de software assumindo a postura de "Último Defensor da Qualidade";
       Restrições no gerenciamento de mudanças;
       Preparação detalhada e planejamento acima de tudo;
       Conjunto de documentação pesado para a terceirização dos esforços de teste;
       Critérios de entrada e saída rigorosos e com aprovações;
       Automatização de testes pesada e com foco nas regressões;
       Tentativas de execução do processo.
Ao se tratar de teste ágil, essas mesmas práticas não se adaptam à dinâmica almejada. Em um ambiente ágil de controle de qualidade deve-se considerar os prazos e as atividades de teste do começo ao fim da iteração. Ao contrário do teste tradicional, não se espera que uma única equipe se responsabilize pela qualidade final das entregas, mas sim que todas as equipes tenham sua colaboração no controle dessa qualidade, desde o levantamento das necessidades do cliente, até a implantação do produto final gerado.
 No teste tradicional, espera-se que os defeitos sejam identificados no último nível, pela equipe de QA, enquanto que ao se aplicar teste ágil, isso é antecipado pela própria equipe de desenvolvimento por meio de práticas como desenvolvimento em pares, integração contínua, pequenas entregas, refatoração constante e padrões de codificação, de técnicas como TDD (Test Driven Development) e ATDD (Acceptance Test Driven Development), e através da automatização dos testes gerados.Ao se trabalhar com testes ágeis, observa-se algumas mudanças de conceito em relação ao modelo tradicional, tais como:
       Mudanças são inevitáveis, e com base nisso toda equipe, incluindo os programadores, testadores e clientes, são responsáveis pelo resultado final;
       Todos da equipe devem estar acessíveis e se comunicando ativamente através do projeto;
       O teste de software se torna mais preventivo, ou seja, programadores testam mais cedo, com mais frequência e agressivamente. Neste ponto a prática de TDD  pode e deve ser aplicada;
       Toda equipe solicita ativamente feedback das demais;
       Testadores e programadores tendem a ser mais pró-ativos (participação direta com o cliente) e técnicos (aplicação de práticas XP e técnicas como TDD e ATDD);
       Testadores precisam saber automatizar, com o intuito de manter o ciclo de entregas dos testes sempre no prazo estabelecido e com teste de regressão atualizado. Só não se automatiza, o que realmente não pode ser automatizado ou não vale a pena ser automatizado (e.g. Teste de Usabilidade);
       Os testes tonam-se uma rotina que nasce e morre junto à iteração planejada.


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