Matrix é uma trilogia cujo primeiro filme foi lançado em 1999, sucesso de
bilheteria e crítica, arrecadou cerca de 456 milhões de dólares sendo que seu
custo de produção foi estimado em 65 milhões de dólares. Este filme conta a
história de Neo interpretado por Keanu Reeves. Neo é um programador que
vive em um cubículo escuro e sente fortes dores de cabeça e sensações de que há
algo de estranho no mundo em que vive. E suas sensações são corretas, pois esta
história conta em um tempo muito afrente, um mundo dominado pelas máquinas, no
qual os homens são aprisionados em casulos para gerar bioenergia, já que é esta
a forma que as máquinas encontraram para garantir sua sobrevivência.
A Matrix seria uma espécie de
computador central que gera na mente dos homens aprisionados sensações e
experiências que os fazem crer que realmente vivem uma vida normal, as máquinas
obrigam-se a fazer uso disto pela afirmação feita no filme de que um corpo não
poderia viver sem uma mente. Após esta compreensão da temática, destaca-se a
questão chave abordada no filme, a questão da escolha. O livre arbítrio neste
contexto é tratado como um diferencial dado somente àqueles que aguentariam
saber da verdade. Desta forma, acaba-se evidenciando através desta analogia
umas das maiores qualidades do homem: a capacidade de ação por meio da razão.
Neo acaba tendo que tomar a difícil decisão de escolher entre a pílula
vermelha ou azul, conhecer a verdade ou continuar na ignorância carcerária
respectivamente. Ao escolher a vermelha ele buscou conhecer a verdade, porém
dolorosa. A história conta também, que outros que passaram por esta situação
preferiram permanecer na ignorância e disto conclui-se que a resistência a
qualquer método de opressão só é possível através do conhecimento e que este
exige no mínimo a valorização da liberdade. Através da reflexão acerca desta
obra fictícia é possível abordar uma série das mais importantes questões
filosóficas trazendo á tona motivos que tornam a ética indispensável para a
vida das pessoas, sendo no âmbito social ou profissional independente dos
diversos segmentos aos quais estas possam vir a pertencer.
Obviamente, este filme não trouxe novas questões para a filosofia. Para
aqueles que conhecem é perceptível que este filme foi baseado em um diálogo travado
pelo filósofo Sócrates com Glauco e que encontra-se descrito no livro “A
República” de Platão, sob o título de “A Alegoria” ou “Mito da Caverna”, o qual
narra a tentativa de Sócrates mostrar a Glauco através de uma analogia o
caminho percorrido por um indivíduo na tentativa de se ver livre do mundo da
ilusão e atingir a esfera da verdade, tentando demonstrar que a verdade não se
encontra meramente através das aparências.
Esta explanação de Sócrates conta a história de pessoas que desde seu o
nascimento são acorrentados no interior de uma caverna de modo que olhem
somente para uma parede iluminada por uma fogueira, que ilumina um palco onde
estátuas dos seres como homem, planta, animais etc. são manipuladas e vistas
pelos prisioneiros apenas como sombras projetadas na parede, sendo a única imagem
que aqueles prisioneiros conseguem enxergar. Acabam vendo estas encenações
corriqueiramente e com passar do tempo tomam estas por referência e dão nomes a
estas sombras e associam também sua regularidade fazendo competições entre eles
para comparar o número de acertos em relação ao nome daquela sombra e sua
respectiva aparição.
A história conta que em um determinado dia, um daqueles prisioneiros é
forçado a sair da caverna. No momento em que é atirado para fora da caverna o
sol cega seus olhos forjados praticamente pela escuridão, relutantes e
demorados a entender a verdadeira realidade. Em um primeiro momento pensa em
retornar para a caverna, entretanto ao passo que percebe que passou a vida toda
julgando e crendo apenas em sombras e ilusões o homem se compadece de seus
companheiros que ainda estavam a caverna e decide resgatá-los. Esta é uma parte
sensível da história, já que como os prisioneiros não nunca tiveram contato com
outra esfera a não ser a da realidade que presenciam, debocham de seu colega
liberto e afirmam que este está louco e que se o mesmo não parasse com aquelas
ideias acabariam por matá-lo, não aceitando a possibilidade de existência de outro
cenário diferente daquele que conhecem.
Esta alegoria afirma que os prisioneiros são equivalentes as pessoas que
segundo diferentes culturas, acostumam-se com mesmas noção por vezes
insubjetivas que geram um juízo de fato sem que ao menos o indivíduo reflita
sobre aquilo que acredita ideologicamente da mesma forma que aquilo o foi
transmitido. Nesta linha de raciocínio conclui-se que o indivíduo pode vir a
ser prisioneiro de uma caverna que ele próprio ignora. Atualmente, por muitas
vezes o sentimento individualista toma o ser humano fazendo com que esqueça ou
não queira ver os inúmeros problemas sociais existentes e por vezes com pouco
conhecimento da verdade, as pessoas acabam não sendo racionais e críticas a
respeito do que pode e deve ser feito para mudar o que está errado.
O indivíduo ciente torna-se refém de suas próprias escolhas e se este possui
um bom nível de criticidade e sensatez compreende que as consequências de seus
atos se realizados para o bem comum serão produtivos no presente e futuro. Para
tanto, o requisito é estar ciente, consciente e desta forma o mais necessário é
a busca constante da razão, que não é de difícil acesso e só depende da vontade
de cada um. Após esta reflexão introdutória que conclui que a ética é
intrínseca ao ser que deve querer possuí-la o texto segue com a óbvia
informação de que a cultura hacker, como qualquer outra, também possui sua
ética.
Os hackers
são conhecidos pela maioria das pessoas como pessoas que criam e disseminam
vírus, atacam computadores e espalham dados pessoais pela internet. O que pouca
gente sabe, no entanto, é que a cultura hacker
surgida na década de 1960 é responsável por uma série de soluções que são
utilizadas no cotidiano. Para entender um pouco melhor, é necessário saber o que cada um dos
nomes significa. Hackers, na verdade, são indivíduos que elaboram e
modificam softwares e hardwares de computadores, seja
desenvolvendo funcionalidades novas ou adaptando as antigas. Já cracker é o termo usado para designar
quem pratica a quebra (ou cracking)
de um sistema de segurança. Na prática, os dois termos servem para conotar
pessoas que têm habilidades com computadores, porém, cada um dos
"grupos" usa essas habilidades de formas bem diferentes. Os hackers utilizam todo o seu conhecimento
para melhorar softwares de forma
legal e nunca invadem um sistema com o intuito de causar danos. No entanto, os crackers têm como prática a quebra da
segurança de um software e usam seu
conhecimento de forma ilegal, portanto, são vistos como criminosos.
Definindo melhor, conforme a
enciclopédia livre, hacker é um indivíduo que se dedica, com uma intensidade
incomum, a conhecer e modificar os aspectos mais internos de dispositivos, programas e redes
de computadores. Graças a
esses conhecimentos, um hacker
frequentemente consegue obter soluções e efeitos extraordinários, que
extrapolam os limites do funcionamento "normal" dos sistemas como
previstos pelos seus criadores; incluindo, por exemplo, contornar as barreiras
que supostamente deveriam impedir o controle de certos sistemas e acesso a
certos dados. Abstraindo-se conceitos encontrados no site Hackerteen, postados pelo professor e
sociólogo Sergio Amadeu o termo compartilhar era a regra e o esperado dentro da
cultura hacker. O princípio do
compartilhamento foi resultado da atmosfera informal e do acesso não
burocrático aos recursos no MIT (Massachusetts
Institute of Technology). No início da era dos computadores e da
programação, os hackers do MIT
desenvolviam os programas e os compartilhavam com outros usuários. Se o hack (termo utilizado para expressar o
código do programa) fosse particularmente bom, então o programa poderia ser
postado em um quadro em algum lugar perto dos computadores para que assim
pudesse ser melhorado ou adaptado colaborativamente, e os programas que fossem
construídos em cima deste, eram arquivados em fitas e guardados em uma gaveta
de programas, de fácil acesso a outros hackers.
Segundo Pekka Himanen, escritor e estudioso deste movimento, um hacker adora encontrar desafios em que
possa usar livremente sua inteligência para assim superá-los e no momento da
obtenção do resultado compartilhá-lo. Pode-se afirmar que os valores mais
importantes para um hacker são o
conhecimento a liberdade e a colaboração (compartilhamento). Neste contexto, a
crença no poder de uma máquina, como o computador, na capacidade da melhoria de
vida da população é um estimulo a mais para os valores éticos deste grupo que
trabalham de forma coletiva e aberta. Uma das mais revolucionárias tecnologias
da atualidade, a internet, foi fomentada por este segmento. Sobre essa ética
hacker, Pekka Himanen, em seu livro A Ética Hacker
(2001), descreve os métodos de trabalho daqueles que atuam mais diretamente no desenvolvimento
de softwares para computadores e,
expandindo esse conceito, pensa que essa postura hacker pode ser, em última instância, uma postura para todos os
campos das atividades humanas.
Ainda segundo este autor, são sete as características da chamada ética
dos hackers: paixão, liberdade, valor
social (abertura), nética (ética da rede), atividade, participação responsável
e criatividade, todas elas devendo estar presentes nos três principais aspectos
da vida: trabalho, dinheiro e ética da rede (HIMANEN, 2001, p. 125-127). Paixão
também pode ser entendida como a palavra que descreve o que Linus Torvalds chamou
de “entretenimento”, essa é o entusiasmo e o prazer de fazer o trabalho. Liberdade
é descrita como a liberdade no estilo de vida. Usualmente, hackers não trabalham com horário fixo para produzir software, eles
gostam da liberdade de serem capaz de trabalhar a hora que melhor os convêm.
Valor social é referente ao trabalho feito “pela” comunidade “para” a
comunidade e a apreciação de tal trabalho. A abertura é o conceito do trabalho
ser aberto para ser cobrado, melhorado, copiado... Atividade é o conceito de
fazer algo com suas crenças, é sobre colocar em prática os princípios de cada um.
Consideração está relacionado com respeito, quando em comunidade todos podem participar
e é importante ter consideração pelo outro para gerar um ambiente harmonioso. O
último é criatividade, é o valor de criar algo novo, surpreendente, autêntico.
É a inovação das características do software que o faz mais fácil, prático e completo.
Conforme publicação de Brunet, em seu artigo “Software livre e ética hacker
como propulsores de projetos artísticos e culturais” inúmeros projetos de
grande porte foram desenvolvidos com base nos valores da ética hacker:
“[...] são comumente encontrados nos projetos
colaborativos artísticos e culturais na internet. Projetos como Wikipedia (http://pt.wikipedia.org), Freesound (http://freesound.iua.upf.edu),
Slashdot (http://slashdot.org/), Metafilter (www.metafilter.com), Yellow Arrow Project (http://yellowarrow.net), Converse (http://converse.org.br), Our Media (http://www.ourmedia.org), Wikimedia Commons (http://commons.wikimedia.org) e Sito (http://www.sito.org) são trabalhos feitos por voluntários que realmente tem paixão uma
paixão pelo que fazem.” (2010).
Nelson Pretto, doutor em Ciências
da Comunicação pela Universidade de São Paulo afirma que esses princípios dos hackers possibilitaram a construção do ciberespaço
e que este com os aparatos tecnológicos digitais, possibilitou intrinsecamente
a emergência de novas linguagens e de novas práticas de produção de
conhecimentos e de culturas. Nestes preceitos, pode-se afirmar que diversas
personalidades tiveram uma conduta hacker
durante sua trajetória e a simples frase da poetisa brasileira, Cora Coralina
além de transmitir bem o sentimento deste grupo é uma prova disto: “Feliz
aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”. Sendo assim, conclui-se
que no momento em que sejam incentivados valores semelhantes aos cultivados por
este segmento, muitas novas ideias e projetos surgirão já que a criatividade
que é a base da inovação sustenta-se sobre os pilares do conhecimento.
REFERÊNCIA
PLATÃO.
A República. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1996. RIBEIRO, Renato
Janine. Ser Ético, Ser Herói. Disponível no site: <http://www.renatojanine.pro.br/Etica/heroi.html>.
Acesso em: 11/09/2012.
WIKIPEDIA, The Free Encyclopedia: Hacker. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Hacker >. Acesso em: 11/09/2012.
WIKIPEDIA, The Free Encyclopedia: Ética
Hacker. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89tica_hacker>. Acesso em: 11/09/2012.
WIKIPEDIA, The Free Encyclopedia: Matrix. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Matrix>. Acesso em: 11/09/2012.
AMADEU,
Sergio. Hackerteen : O juízo de fato da
ética hacker. Disponível em: <http://www.hackerteen.com/pt-br/link/etica-hacker-faixa-preta.html>. Acesso em: 11/09/2012.
BORGES, Jamile.
Pirataria e ética hacker. Disponível em: <http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=1428 >. Acesso em: 11/09/2012.
PRETTO, Nelson. Hackers e desenvolvimento científico brasileiro. Disponível em: <https://blog.ufba.br/nlpretto/?tag=etica-hacker>. Acesso em: 12/09/2012.
PRETTO, Nelson. Redes
colaborativas, ética hacker e educação. Educação em Revista, Belo Horizonte,
n.3, dez 2010.
HIMANEN,
Pekka. The hacker ethic: a radical approach to philosophy of business. New York:
Random House Trade Paperbacks, 2001.
BRUNET, Karla Schuch. Software
livre e ética hacker como propulsores de projetos artísticos e culturais
na Internet. Revista Digital do LAV, v. 2, p. 1,
2009. [Pdf]
Nenhum comentário:
Postar um comentário